domingo, 16 de janeiro de 2011

Monarquia

Pelo que se tem visto neste clima de crise a que temos vindo a assistir, será que os poderes do Presidente da República servem para alguma coisa de jeito? Com a sensação de vazio que parece existir neste Órgão de Soberania, face aos desmandos do poder executivo e com a poluição própria dos pobres debates e comícios eleitorais, dou por mim tantas vezes a pensar como seria se restaurássemos a Monarquia...Talvez poupássemos tempo, em estéreis discussões, dinheiro, em inúteis e, não raras vezes, porcas campanhas, e ganhássemos a serena estabilidade dos países civilizados, em que tal regime vigora, como: Suécia, Dinamarca, Bélgica, Inglaterra, Japão, Noruega, Holanda, etc., nos quais os respectivos Estados são dignamente representados por pessoas convenientemente preparadas para tão altas funções, por nelas serem inculcados, desde o berço, os mais altos valores patrióticos e democráticos, a que, com toda a naturalidade, em regra, são fiéis, por razões de prioridade dos desígnios que são impostos às respectivas existências, enquanto não declinados, constituindo os necessários exemplos de probidade, tanto quanto, por cá, urge obstar à corrupção e a outros pecados que por aí vão fazendo livre o seu caminho, rumo à glória celestial, em lugar de à exemplar condenação.
Não sou estudioso da matéria, nem milito em qualquer movimento pró-monarquia. Leigo como os mais puros no que isto diz respeito, tenho, todavia, por algumas reflexões que venho fazendo, o entendimento de que é tempo de trazer o assunto para a ribalta, criando oportunidade para, em discussão pública, livre de obnubilantes preconceitos, se cotejarem as vantagens e desvantagens do sistema monárquico face ao republicano. Tal deveria ser antecedido, no entanto, de uma discussão em que se apurasse da real utilidade de um Chefe de Estado, dados os reduzidos poderes que lhe confere a Constituição, utilidade essa, à qual, pelas limitações aludidas, oponho fortes reservas.
 Apesar de que acima se diz, não basta nascer-se em berço de oiro para se estar ao abrigo dos pecados da gente comum, porque, como sabemos, não há obras perfeitas que dos falíveis humanos saiam e, desse modo, bem possível é enumerar casos de escândalos e fofoquices expostos à voragem voaerista dos consumidores da impressa mundana, atribuídos a elementos de algumas casas reais, designadamente, as europeias, mais conhecidas por mais próximas; Em todo o caso, longe do foro criminal, ao que creio! Mas, ainda assim, ocorre-me fazer a seguinte pergunta: Será de alguma forma comparável com o que acontece, de cinco em cinco anos, a esse nível, com os candidatos à Presidência da República, com o permanente escrutínio que seria feito a um Monarca, desde o seu nascimento, caso vivêssemos numa Monarquia? Sobre ele seria exercida uma permanente vigilância a todos os níveis e saber- se- ia, «pari passu», do essencial e relevante para o interesse público, tudo o que a ele dissesse respeito; E não haveria, como acontece nas campanhas eleitorais do actual regime, cenas em que se assiste a um vergonhoso e recíproco arremesso de lama, desencantada estrategicamente nas catacumbas da ignomínia, que a todos nós incomoda e envergonha, e em nada contribui para um sério debate de ideias, na base das quais se faria uma civilizada veiculação de dados, necessárias às conscientes escolhas dos eleitores.
Mas se é certo, como acima se diz, que não basta nascer no seio numa família que privilegie a formação das suas crianças, dentro dos valores como, v.g., os que são requeridos pela dignidade inerente à função de um Chefe de Estado, para que estes nelas nasçam como cogumelos e como consequência inevitável de tal circunstância, bem conhecida é a forte relação entre as origens dos educandos e a suas capacidades para o seu desenvolvimento a todos os níveis, designadamente no que se refere ao sucesso escolar e à assimilação dos valores para a cidadania requeridos, assim sejam eles convenientemente ministrados; Daí que, talvez, mais garantidos ficássemos com alguém que, para aquele fim e desde o berço, recebesse a adequada preparação.
Quanto aos custos para o erário público, e  as  variações que, neste âmbito, uma eventual alteração acarretaria, não tenho bases para me pronunciar; Mas, no caso português, existe a Fundação da Casa de Bragança, que, ao que julgo, tem recursos próprios, que já vêm constituindo a fonte de subvenção da família do herdeiro ao trono.

Alguém habilitado que apareça, para dar o seu contributo com mais esclarecimentos sobre o que está posto à discussão.
RS 16/01/2011


quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Vespertina Inspiração


Deleitosas imagens
ao sabor de subtís punções riscadas.
Com espanto,
seu autor veria um mundo grande,
o resultado do diverso olhar,
se um sondar largo realizasse,
por tão diverso ser o traço visto
daquele que em doce sonho imaginou!
Quando soltas, são matrizes inimaginadas,
se fazem outras e outras são suas mensagens!
R.S. 12/01/2010

domingo, 15 de agosto de 2010

Visita a Chaves

Recentemente fui a Chaves, de guinada. De cada vez que ali vou, sinto um prazer renovado na contemplação das paisagens transmontanas, para mim sempre deslumbrantes. E desta vez não foi diferente. Certamente que elas marcaram o meu sentido estético da natureza, bem assim, creio, como o de todos os que, como eu, por lá cresceram. O traçado dos novos acessos, oferecendo novas perspectivas, parece dar delas contornos mais encantadores, ainda. Neste clima de quase exaltação em que decorria a viagem, o rolar da máquina ia-me dando a sucessão das placas toponímicas, uma após outra, como que constituindo uma reposição na memória, dos nomes de certas povoações desvanecidos pela erosão do tempo. Destas, a que indicava o sentido de Montalegre remeteu-me para a ideia do quanto estou em falta com o meu compromisso, para comigo próprio, de conhecer Pitões das Júnias. Dizem-me ser obrigatória essa visita. A ela associei, também, o spot publicitário do Euromilhões, em que se noticia a existência de uma emissora de TV de música regional, criada por um virtual sortudo daquela lotaria, o qual contém a ideia que campeia o imaginário do comum dos cidadãos, de ser essa a via mágica para se chegar à felicidade. Por aí andam, também, de vez em quando, os meus pensamentos. Enfim, apenas pensamentos…

Viajei na expectativa (gorada) de encontrar o Blé, dado o seu anunciado plano de ir para Chaves no início de Agosto a que, certamente, imponderáveis terão obstado. Assim, o almoço imaginado, que também o devia ter incluído, apenas foi participado pela sempre menina Mizete, aderente entusiasta desta ideia, para que foi arregimentada no espaço «facebookiano» e, circunstancialmente, pelos meus familiares: Mário , Ester e Leonor; todos eles igualmente companhia prazenteira e merecedores do meu apreço.

Se o objectivo era ter uma jornada de encher a alma, mesmo com a frustração causada pela ausência do Blé, este foi de todo conseguido, quer no decurso do almoço em que muito nos divertimos, cada um contando as respectivas estorinhas – ali também tive a grata satisfação de, depois de mais de 4 décadas, poder rever e chegar à fala com a Linda Roque (do Império) e marido, na circunstância vizinhos de mesa – quer ainda no que se seguiu ao almoço, depois da companhia desfeita.

É que, nem de propósito, logo, logo, de seguida, de aspecto cuidado, imponente no alto dos seus - para aí - 1,90m, no dobrar da esquina das Freiras com a Bento Roma, surgiu ao nosso encontro, meu e da Mizete, o Nuno Castor. Foram inevitáveis as manifestações de incontida satisfação, na natural decorrência da quebra, que ali se consumava, de um afastamento de mais de dez anos. A oportunidade de súbito criada para as tantas perguntas para fazer…as outras tantas estórias para contar e ouvir… e outros amigos visitar, em colisão com encontro aprazado entre a Mizete e o seu grupo do Bar Aurora, determinou que dela nos despedíssemos ali, incorrendo eu na desastrada indelicadeza - de que agora sou ciente e me penitencio - de não a termos acompanhado ao Bar Aurora, o seu destino.

Tagarelando ainda sem rumo definido, eu e Nuno íamos seguindo, quando manifestei o desejo de me encontrar com o Manuel Pinheiro, também colocado no rol daqueles amigos com quem não me encontrava havia tempos infindos. Melhor timoneiro que o Nuno na persecução desse desiderato não podia ter, e havia de aproveitar! O telemóvel ajudou, rapidamente, a definir o ponto encontro, e lá seguimos para um café, curiosamente, nas proximidades da antiga «Quinta do Pinheiro» a que, por boas lembranças de antanho, estou afectivamente ligado – para ali se trasladava toda a família nas férias de verão, na minha adolescência.

Mais uma vez a emoção saltou e tomou conta de mim. O Manuel Pinheiro estava ali: Bem cuidado, de aspecto saudável, sem pneus – não fosse ele médico – e nem uma ligeira otite, declarada, o perturbou. Saudámo-nos com o abraço «protocolar» e nestes casos o protocolo determina que seja dado azo à espontaneidade. Foi efusivo, com algazarra, portanto. Já com o seu caçula presente – alguns minutos de atraso o afastaram do preambulo do encontro - desfiámos o rosário de recordações, das loucuras da juventude de que fomos protagonistas, das quais destaco aquela em que a força centrífuga fez com que a abertura da porta do condutor do Fiat 600 passasse a fazer-se de baixo para cima. Com o Nuno, recordámos as actuações de «Os Tigres» em Lisboa e o ingresso dos mancebos flavienses no Convento de Mafra, não por razões de qualquer súbita de vocação religiosa, mas devidas à prestação do, então, serviço militar obrigatório; Veio à baila «O caso do sabre », arma que eu perdera e acabei por achar cerca de dois meses depois, no meio de giestas e tojos da Tapada Real, quase no final da recruta, livrando-me, assim, milagrosamente, de uma pesadíssima sanção da justiça militar.

Despedimo-nos do Manuel Pinheiro com o compromisso por parte do Nuno de promover um almoço-encontro, em Setembro próximo, para o qual será convocada a gente da velha guarda. Boa ideia! Mas, por via dos olvidos, cá estarei eu para as sondagens sobre o bom caminho que convém que ela (ideia) faça.

A zona histórica da cidade foi o apeadeiro seguinte, e o palco em que se desenrolaram as últimas cenas deste capítulo dos reencontros: Eu e o Nuno, as palavras finais, o reiterar da promessa do reencontro de Outono, um abraço e cada um para seu lado…

Pela minha parte havia, ainda, por cumprir, a visita que a minha amiga Facebookiana, Elisabete Matias, vem promovendo ao Santamaria Bar. Gostei do que vi: Um espaço de dois pisos ligados à vista, com decoração simpática; simpático foi, também, o acolhimento feito pelo pessoal de serviço. Situado no Perímetro Medieval da Cidade, cujos arruamentos e edificações têm sido objecto de um programa de reabilitação, com resultados francamente surpreendentes pela positiva, parece ser especialmente recomendável para convívios intimistas de grupos, ou de pares, com incidência no período nocturno. Reservei uma visita «regada» para melhor oportunidade.

No meu percurso para a pastelaria de que sou cliente, de folares e pastéis de Chaves, houve ocasião, ainda, para conhecer a Ilda Silva - outra amiga do Facebook – para o que bastou subir as escadas do Semanário Transmontano. Ali estivemos largos minutos numa agradável conversa, acabando eu por sair de lá na condição de assinante do hebdomadário.

Cheguei a casa dos meus familiares no Bairro Branco Teixeira, para a despedida, abraçando o último exemplar do Semanário Transmontano e um embrulho de bons argumentos para a merenda. As bebidas foram por conta da casa…

Afinal, coisas singelas bastam para que se seja feliz. Aqui o Euromilhões não veio à liça!!! Mas, aqui para nós: Se vier, seja onde for, alforja-se!