domingo, 15 de agosto de 2010

Visita a Chaves

Recentemente fui a Chaves, de guinada. De cada vez que ali vou, sinto um prazer renovado na contemplação das paisagens transmontanas, para mim sempre deslumbrantes. E desta vez não foi diferente. Certamente que elas marcaram o meu sentido estético da natureza, bem assim, creio, como o de todos os que, como eu, por lá cresceram. O traçado dos novos acessos, oferecendo novas perspectivas, parece dar delas contornos mais encantadores, ainda. Neste clima de quase exaltação em que decorria a viagem, o rolar da máquina ia-me dando a sucessão das placas toponímicas, uma após outra, como que constituindo uma reposição na memória, dos nomes de certas povoações desvanecidos pela erosão do tempo. Destas, a que indicava o sentido de Montalegre remeteu-me para a ideia do quanto estou em falta com o meu compromisso, para comigo próprio, de conhecer Pitões das Júnias. Dizem-me ser obrigatória essa visita. A ela associei, também, o spot publicitário do Euromilhões, em que se noticia a existência de uma emissora de TV de música regional, criada por um virtual sortudo daquela lotaria, o qual contém a ideia que campeia o imaginário do comum dos cidadãos, de ser essa a via mágica para se chegar à felicidade. Por aí andam, também, de vez em quando, os meus pensamentos. Enfim, apenas pensamentos…

Viajei na expectativa (gorada) de encontrar o Blé, dado o seu anunciado plano de ir para Chaves no início de Agosto a que, certamente, imponderáveis terão obstado. Assim, o almoço imaginado, que também o devia ter incluído, apenas foi participado pela sempre menina Mizete, aderente entusiasta desta ideia, para que foi arregimentada no espaço «facebookiano» e, circunstancialmente, pelos meus familiares: Mário , Ester e Leonor; todos eles igualmente companhia prazenteira e merecedores do meu apreço.

Se o objectivo era ter uma jornada de encher a alma, mesmo com a frustração causada pela ausência do Blé, este foi de todo conseguido, quer no decurso do almoço em que muito nos divertimos, cada um contando as respectivas estorinhas – ali também tive a grata satisfação de, depois de mais de 4 décadas, poder rever e chegar à fala com a Linda Roque (do Império) e marido, na circunstância vizinhos de mesa – quer ainda no que se seguiu ao almoço, depois da companhia desfeita.

É que, nem de propósito, logo, logo, de seguida, de aspecto cuidado, imponente no alto dos seus - para aí - 1,90m, no dobrar da esquina das Freiras com a Bento Roma, surgiu ao nosso encontro, meu e da Mizete, o Nuno Castor. Foram inevitáveis as manifestações de incontida satisfação, na natural decorrência da quebra, que ali se consumava, de um afastamento de mais de dez anos. A oportunidade de súbito criada para as tantas perguntas para fazer…as outras tantas estórias para contar e ouvir… e outros amigos visitar, em colisão com encontro aprazado entre a Mizete e o seu grupo do Bar Aurora, determinou que dela nos despedíssemos ali, incorrendo eu na desastrada indelicadeza - de que agora sou ciente e me penitencio - de não a termos acompanhado ao Bar Aurora, o seu destino.

Tagarelando ainda sem rumo definido, eu e Nuno íamos seguindo, quando manifestei o desejo de me encontrar com o Manuel Pinheiro, também colocado no rol daqueles amigos com quem não me encontrava havia tempos infindos. Melhor timoneiro que o Nuno na persecução desse desiderato não podia ter, e havia de aproveitar! O telemóvel ajudou, rapidamente, a definir o ponto encontro, e lá seguimos para um café, curiosamente, nas proximidades da antiga «Quinta do Pinheiro» a que, por boas lembranças de antanho, estou afectivamente ligado – para ali se trasladava toda a família nas férias de verão, na minha adolescência.

Mais uma vez a emoção saltou e tomou conta de mim. O Manuel Pinheiro estava ali: Bem cuidado, de aspecto saudável, sem pneus – não fosse ele médico – e nem uma ligeira otite, declarada, o perturbou. Saudámo-nos com o abraço «protocolar» e nestes casos o protocolo determina que seja dado azo à espontaneidade. Foi efusivo, com algazarra, portanto. Já com o seu caçula presente – alguns minutos de atraso o afastaram do preambulo do encontro - desfiámos o rosário de recordações, das loucuras da juventude de que fomos protagonistas, das quais destaco aquela em que a força centrífuga fez com que a abertura da porta do condutor do Fiat 600 passasse a fazer-se de baixo para cima. Com o Nuno, recordámos as actuações de «Os Tigres» em Lisboa e o ingresso dos mancebos flavienses no Convento de Mafra, não por razões de qualquer súbita de vocação religiosa, mas devidas à prestação do, então, serviço militar obrigatório; Veio à baila «O caso do sabre », arma que eu perdera e acabei por achar cerca de dois meses depois, no meio de giestas e tojos da Tapada Real, quase no final da recruta, livrando-me, assim, milagrosamente, de uma pesadíssima sanção da justiça militar.

Despedimo-nos do Manuel Pinheiro com o compromisso por parte do Nuno de promover um almoço-encontro, em Setembro próximo, para o qual será convocada a gente da velha guarda. Boa ideia! Mas, por via dos olvidos, cá estarei eu para as sondagens sobre o bom caminho que convém que ela (ideia) faça.

A zona histórica da cidade foi o apeadeiro seguinte, e o palco em que se desenrolaram as últimas cenas deste capítulo dos reencontros: Eu e o Nuno, as palavras finais, o reiterar da promessa do reencontro de Outono, um abraço e cada um para seu lado…

Pela minha parte havia, ainda, por cumprir, a visita que a minha amiga Facebookiana, Elisabete Matias, vem promovendo ao Santamaria Bar. Gostei do que vi: Um espaço de dois pisos ligados à vista, com decoração simpática; simpático foi, também, o acolhimento feito pelo pessoal de serviço. Situado no Perímetro Medieval da Cidade, cujos arruamentos e edificações têm sido objecto de um programa de reabilitação, com resultados francamente surpreendentes pela positiva, parece ser especialmente recomendável para convívios intimistas de grupos, ou de pares, com incidência no período nocturno. Reservei uma visita «regada» para melhor oportunidade.

No meu percurso para a pastelaria de que sou cliente, de folares e pastéis de Chaves, houve ocasião, ainda, para conhecer a Ilda Silva - outra amiga do Facebook – para o que bastou subir as escadas do Semanário Transmontano. Ali estivemos largos minutos numa agradável conversa, acabando eu por sair de lá na condição de assinante do hebdomadário.

Cheguei a casa dos meus familiares no Bairro Branco Teixeira, para a despedida, abraçando o último exemplar do Semanário Transmontano e um embrulho de bons argumentos para a merenda. As bebidas foram por conta da casa…

Afinal, coisas singelas bastam para que se seja feliz. Aqui o Euromilhões não veio à liça!!! Mas, aqui para nós: Se vier, seja onde for, alforja-se!

Sem comentários:

Enviar um comentário